Impossível começar a falar sobre o assunto sem ser brutalmente honesto: é muito difícil ser autodidata.
Hoje, basta um computador com internet para poder se enfiar nos self-studies, mesmo com todo o material do mundo disponível (seja através dos MOOCs [Coursera, edX] que te dão acesso à aulas das melhores universidades do mundo ou dos reservatórios russos de livros com um potencial praticamente ilimitado) eu ainda sustento que é muito difícil ser autodidata.
O problema não é a falta de conteúdo. Hoje, claramente as dificuldades são incomparáveis com as dificuldades de 30 anos atrás, eu mal consigo imaginar como alguém conseguia bancar a ideia de ser autodidata antes da internet, tendo que ir garimpar materiais em bibliotecas, livrarias e sebos.

Além disso, cabe uma reflexão: na faculdade, tudo o que você aprendeu veio estritamente daquilo visto em aulas expositivas e bibliografia? A experiência de aprender também tem um aspecto de socialização que é inegável: conhecer colegas, conversar a respeito das matérias, ouvir as dúvidas que outras pessoas tiveram assim como as respostas. Tudo isso é essencial para o aprendizado. Na verdade, é tão importante que as plataformas de ensino online tentam simular alguns desses aspectos com os fóruns de discussão.
Provas, grades horárias definidas por especialistas e titulações são (ainda que nem sempre) ferramentas que auxiliam muito o aluno. A falta de coesão curricular e de objetivo (que eu quero explorar um pouco mais nas dicas) podem jogar meses de estudo fora e frustrar completamente alguém que está a fim de estudar uma coisa nova. Mas ao mesmo tempo, o engessamento do ensino institucionalizado também pode matar todo o seu tesão por estudar alguma coisa.
Ser autodidata é difícil porque não existe diploma (apesar de existirem certificados), não existe uma garantia de que você está estudando aquilo que vai ser útil para você, e também não existe a mentalidade do mínimo esforço pelo certificado, o que você aprendeu você aprendeu.
Minha intenção não é defender um tipo de aprendizado no lugar do outro. Acho que o ensino presencial e institucionalizado e o auto-ensino feito à distância podem e devem complementar um ao outro. Eu acredito tanto nisso que eu levo a minha formação nas duas frentes, ao mesmo tempo. Minha formação em linguística foi bastante formal, na faculdade de letras, mas meus estudos em estatística, lógica e programação foram tocados de modo bastante (mas não totalmente) autônomo.
A importância do autodidatismo vai crescer muito nos próximos anos. Acredito que seja fundamental começar a se preparar pra isso: escolher um tópico legal e ir atrás de cursos.
Dito isso, vou listar algumas dicas que eu gostaria de ter lido quando eu fui começar a estudar coisas por conta.
- Tenha um foco: se é um concurso, uma prova, um projeto ou um trampo, foque os estudos. A variedade de material é tanta que se você adentrar sem algum foco, é bem capaz de ficar patinando. Descobrir coisas novas, mas ser ir a fundo em nenhuma delas, pode ser interessante, mas a chance de você se frustrar e não conseguir levar nada adiante é muito grande.
- Tenha tempo e ritmo: lembra de todas aquelas dicas que te davam na escola sobre como estudar pro vestibular? Elas se aplicam aqui – ao quadrado! Não adianta tocar os self-studies de qualquer jeito, Concentração é fundamental. Reserve umas horas só para estudar. Se os certificados de cursos online ainda não valem muita coisa no mundo profissional (mas isso deve mudar!) o que tem que ficar claro é isso: o importante é dominar o conteúdo. Para isso não dá pra correr: Não dá pra fazer um curso em uma maratona de um dia de estudo, tem que ter um bom ritmo, aprendendo e treinando um pouco ao longo de semanas.
- Tenha curiosidade: Acho que a parte mais legal de conduzir os self-studies é que se um assunto te interessa, você pausa a aula, vai atrás da bibliografia, compra/baixa 3 livros sobre o assunto, abre 6 abas com definições, artigos e matérias. O poder disso é impressionante, o controle sobre a sua própria formação finalmente está com você.
- Tenha um cronograma: Os cursos bem estruturados já oferecem um cronograma sugerido, mas sempre é bom você ter o seu, encaixado na sua própria rotina, se impondo o tempo para terminar um curso e partir pro próximo.
Nos próximos posts, vou exemplificar melhor como estudo cada um dos temas, com links e comentários para ajudar em específico quem quer estudar linguística computacional e programação.
Olá, Bruno!
Gostaria de dicas e recomendações específicas para autoestudo de Estatística. Agradeço desde já!
PS: seu blog é muito bom. Fazia tempo que não me encantava assim com um blog.
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Opa Vinícius!
Em primeiro lugar, muito obrigado pelo comentário! Fico feliz que esteja gostando.
Eu vou postar nas próximas semanas sugestões para self-studies em algumas áreas, entre elas Estatística! Espero que ajude!
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Legal! Fico no aguardo! =)
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Olá Bruno. Muito bom MESMO seu blog. Muito bem escrito e sana algumas duvidas que eu carregava comigo a um bom tempo. A muitos anos eu venho tentando aprender programação. Mas como cursava uma área não relacionada (Biologia) nunca levei meus estudos a sério.
Ainda não sei muito, mas creio que seguindo suas dicas devo melhorar aos poucos.
Obrigado
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Opa Otávio, muito obrigado pelo comentário!
Se cabe uma sugestão, tem um site que é voltado pra ensinar bioinformática. Para isso ele começa ensinando Python e conta com vários exercícios interessantes. O endereço é http://rosalind.info/about/.
Espero que aproveite,
Abraço.
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Oi Bruno,
Adorei o seu blog e esse post resume bem como me sinto atualmente: com muita dificuldade de definir um ritmo de estudos e controlar a ansiedade em relação ao tempo de aprendizado. Ter um blog como o seu como referência certamente vai me ajudar muito. Obrigada!
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